"Quando um homem mente, ele mata uma parte do mundo
Estas são as pálidas mortes as quais os homens as chamam de suas vidas
Tudo isso eu não posso aguentar ver por muito tempo
Não poderia o Reino da Salvação me levar para casa?" (Cliff Burton)
Começar citando Cliff Burton é fundamental para entender o nível musical que a banda adquiriu em 1989. Mesmo com sua morte, ele já havia marcado o Metallica para trilhar um novo caminho em sua meteórica carreira. Cliff não somente influenciou diversos baixistas que o sucederam, mas fundamentalmente a forma do Metallica se relacionar com a música.
...And Justice for All é o quarto álbum de estúdio do Metallica, lançado em 25 de agosto de 1988. Este é o primeiro álbum da banda a contar com o baixista Jason Newsted, que entrou na banda após a morte de Cliff Burton. Com uma forte temática obscura, contendo referências a injustiça no sistema de leis, supressão de liberdades, guerra, insanidade e ódio, é acompanhado pelas estruturas musicais mais complexas de toda a discografia do Metallica.
O álbum vendeu mais de 8 milhões de cópias nos Estados Unidos, sendo o álbum do Metallica mais vendido até então. Resenha-lo mais uma vez me leva a contar um pouco da história dele, algo que muitas vezes não é contido, pois sempre se tem um olhar sobre a música e não a carga lírica das mesmas.
1. "Blackened" 6:41
Direto ao alvo, Blackened profetiza o fim da Mãe terra. Com todo o ódio que Hetfield possa demonstrar em sua voz. O fundamental é compreender que Blackened já aposta num novo Metallica, numa transição dos trasher's dos 80's para o mainstrean dos 90's. Mas isto de nada subjuga ...And Justice for all! Pelo contrário, coloca o Metallica num posto acima das demais bandas da Bay Area. Pois aqui eles soam numa fusão do clássico Heavy Metal europeu que tanto influenciou Hetfield e Ulrich com um lance meio minimalista, meio prog, sem perder a agressividade do trash de San Francisco... sei lá. Mas são guitarras e batidas truncadas, quebradas e velozes, um som mega complexo sem se tornar academicista. Blackened não me cansa nunca...
2. "…And Justice for All" 9:47
O que dizer desta canção? Na minha opinião uma obra prima, e junto com One será para sempre o que tornará este o melhor álbum do Metallica na minha modesta opinião.
Escancarando a verdadeira face da justiça, mais uma letra que despeja ódio de Hetfield. "A justiça está violentada / A justiça já era / Puxando suas cordas / A justiça ja era / Não buscando a verdade / A vitória é tudo / Parece tão cruel / Tão verdadeiro / Tão real". Num instrumental pra la de bem elaborado, com muito bom gosto, aqui está a prova cabal da dupla certeira que é Hetfield e Kirk, onde o primeiro até arrisca solar. Esta é a música que eu levaria comigo para mostrar o que o homem fez na terra.
3. "Eye of the Beholder" 6:30
Esta música vem para provar que Lars já foi o melhor batera que cruzou o Olimpo do metal. Beholder é uma clássica criatura que os olhos tudo vê. Possui corpo esférico, com um grande olho antimagia no centro e vários tentáculos no topo. Na ponta de cada um dos tentaculos há um olho capaz de realizar algum tipo de magia. As mais comuns são raios paralisantes, raios de gelo, raios de calor, correntes eletricas entre outras magias que são feitas em forma de raio. A letra faz um jogo com esta metáfora para denunciar a autoridade, ou autoritarismo.
Aos olhos do Beholder nada escapa, e nós pensamos que somos independentes...
4. "One" 7:27
O que dizer de "One" que ainda não foi dito? Prefiro ficar com a citação de Brian Tatler (Diamond Head): "Minha faixa favorita do METALLICA é 'One'. Tem uma grande dinâmica e deve ser uma das melhores faixas com pedal duplo já gravadas."
5. "The Shortest Straw" 6:36
Mais uma faixa transbordando ódio. Na pegada clássica trash, mais uma letra no tema da injustiça, da forma como somos julgados, de que não interessas as verdadeiras causas, mas sim a sentença. Nunca Lars usou tanto o recurso do splash, o que é comum mais ser usado com o china. Desculpem um detalhe destes, mas Lars está um cavalo em "The shortest straw"!
6. "Harvester of Sorrow" 5:46
A letra nos leva para o obscuro, um crime capital. "O que eu amei, se transformou em ódio". O infanticídio é o crime da mãe que mata o seu filho logo após o nascimento. O que para muitos é um estado de demência soa ao olhar da justiça como uma atrocidade e abominável. A música é mais uma demonstração de Hetfield como um grande frontman. Temos um solo muito melódico de Kirk, o que não é um recurso comum neste album onde ele demonstra mesmo o que é um guitar hero veloz com palhetadas alternadas em pentatônicas e wah-wah.
7. "The Frayed Ends of Sanity" 7:44
A loucura como tema recorrente neste álbum, agora explorando a a linha tênue entre sanidade e a insanidade. O instrumental é fantástico, mas é uma música meio B, não por ela em si, mas porque o álbum é recheado de hits que a banda sempre executa ao vivo. As guitarras dobradas la NWOBHM mostram a força do rock britânico sobre o Metallica. Alias, os riff usados a partir do quarto minuto são fantásticos, o que preparam terreno para um grande solo de Kirk. Vale a pena ouvir!
8. "To Live Is to Die" (Instrumental) 9:49
Burton, o velho cavalheiro do apocalipse ressurge neste instante instrumental que o Metallica sempre reservou em seus álbuns, o que eles deixaram de lado na fase mainstrean e retomaram com Death Magnetic. Uma música que inicia com uma linda melodia em violão clássico, descanbando para uma aula instrumental de heavy metal. A influência inicial de Cliff Burton foi essencial para a criação do estilo musical do Metallica. Ele uniu-se à banda em 1982 e participou de seu álbum de estréia, Kill 'Em All, o qual continha canções escritas antes de sua chegada. Sua influência nas composições é mais notada no álbum seguinte, Ride the Lightning. Seu último álbum, Master of Puppets, foi sucesso comercial e de crítica. O primeiro álbum com material original após a morte de Cliff, ...And Justice for All contém o último crédito de composição de Cliff, nesta faixa, que é quase totalmente instrumental. O Metallica algumas vezes toca a parte intermediária de "To Live Is to Die" em um andamento mais lento, em tributo a Cliff Burton. Foi Cliff quem escreveu a única estrofe da canção, que James Hetfield optou por citar ao invés de cantar, e que em português significa:
"Quando um homem mente, ele mata uma parte do mundo
Estas são as pálidas mortes as quais os homens as chamam de suas vidas
Tudo isso eu não posso aguentar ver por muito tempo
Não poderia o Reino da Salvação me levar para casa?"
Esta última frase ("Cannot The Kingdom of Salvation take me home") foi escrita na lápide de Cliff Burton.
9. "Dyers Eve" 5:13
Esta canção se parece com uma carta suicida de um filho para seus pais, os incriminando pro lhe censurar, por não lhe dar liberdade. Uma letra interessante para fechar este fantástico álbum. Speed no talo, mostrando que a estrada fez muito bem à banda e que eles podiam superar a trágica morte de Cliff e seguirem em frente, mesmo que o caminho futuro seria trilhado por altos e baixos musicais. Mas algo não se tiraria nunca mais do Metallica, eles foram e são a maior banda da história do metal, não somente pela obra em si, mas por todos os caminhos que eles abriram para o som pesado.
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